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Sem ter vergonha de ser feliz

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Qual o homem que não ama sua vida, procurando
ser feliz todos os dias…
”.
( Livro dos Salmos 34,13)
Faz escuro, mas eu canto…”, (Lutero).

No coração do evangelho de Lucas podemos concluir a centralidade da alegria de Jesus na missão de Deus (um sentimento de alegria que gera festa:  é o pastor que reencontra a ovelha perdida;  é a mulher que exulta quando a moeda perdida é encontrada;  é o pai que vai ao encontro do filho perdido, o pródigo, para homenageá-lo com a Graça, em festa e grande alegria; sugxárete moi=alegrai-vos comigo,  diz Jesus a cada feito).  “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar a beleza de ser um eterno aprendiz…”, poetas e cantores proclamam a alegria de viver (Gonzaguinha). Saint-Exupéry dizia: “o maior prazer é o prazer de conviver”.  A ética da do cuidado começa e finaliza, portanto, na alegria do bem, no desejo do bem, na felicidade e no prazer de fazer o bem.

Antes de contrair a doença mortal da ambição, quando o homem se sentia feliz, tranqüilo e seguro, sem ganância de poder, nem pensava numa felicidade comercializável, que permite vender a graça como uma mercadoria num balcão, o salmista já dizia: A ira de Yahweh dura um momento, e seu favor pela vida inteira.  Pela tarde vem o pranto, e pela manhã gritos de alegria (Salmos 30,6). O mais alto ideal cristão está aqui: a felicidade, a bem-aventurança eterna.  Deus cuida de seus filhos e filhas através de nós. Sejamos felizes por isso.

A felicidade não se compra, mas é sempre buscada. Como uma “ave peregrina” que pousa às vezes em nossa janela, mas que escapa no momento exato em que queremos domesticá-la, como nos lembra um ensinamento budista.  Damos muitas voltas pelo mundo: buscamos “ter”, “saber” e “poder”. Contudo, através desses poderosos verbos auxiliares da propriedade, da potência, da sabedoria, buscamos ser felizes (Luiz Carlos Susin). Dificilmente alcançamos esse fim, no entanto. A manhã nunca chega, por esses meios.

A felicidade está ligada ao prazer de um sorriso, inclusive, como o da criança que brinca feliz com a areia sem pressentir que é, já, um esboço do que vai ser o “homem (que) pode ver um mundo num grão de areia e um céu numa flor silvestre, / segurar o infinito na palma da mão / e a eternidade em uma hora”, como dizia William Blake. Tantos conteúdos da “alegria de viver”! A ética mais rudimentar e mais sincera é a que envolve o prazer como forma de ser feliz. Aí está a primeira liberdade e o primeiro amor à vida, a primeira consciência da honestidade. Creio que Kant poderia ter dito isso, se não disse, em sua ética exigente de sinceridade, de verdade contra a hipocrisia ou a ambigüidade de todos nós, da colocação do dever acima de tudo: é um prazer ser honesto!

Haverá outras formas de se expandir a felicidade, como, por exemplo, a felicidade de se dedicar a uma causa de justiça, de trabalhar em favor da cooperação e da solidariedade  com os que não têm nada, de aprender da gente do povo, que vive feliz em sua sabedoria sem ganância, de fazer alguém feliz e até de sofrer pela pessoa amada. Mas são como que degraus sobre a estrutura básica do prazer. A primeira alegria é a de viver. O mais alto ideal ético, o de viver em comunhão, não dispensa, mas exige o prazer. Luiz Carlos Susin disse isso.  E eu assino em baixo.

Rev.Derval Dasilio
Igreja Presbiteriana Unida



Publicado por Pastor Claybom, pai apaixonado, nerd como marca de nascimento, geek por paixão, adorador por excelência. Enfim, um servo de Deus que tenta entender tudo o que Ele nos oferece no dia a dia.



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