Quinta-feira, 7 de abril de 2011. Ao descer da van para o trabalho encontro meu amigo Carlos, colega do setor de Infraestrutura, que estava rindo indo em direção ao refeitório para tomar seu café da manhã. Eu subi para tomar o café na copa do meu setor e ficamos rindo, zoando da cara um do outro como fazemos todo dia. As 9 da manhã já estava sentando na minha estação de trabalho e iniciando minhas atividades e começei a notar um pequeno burburinho no andar. Aquela “radio corredor” que a gente sempre percebe. Mas… alguma coisa estava errada naquele burburinho. Como eu estava meio atarefado deixei a coisa rolar… sabia que acabaria chegando em mim. E realmente chegou. Eram 10h da manhã quando fiquei sabendo do acontecido na escola de Realengo; quase simultâneamente escuto o barulho de pneus cantando na frente da empresa.
A sobrinha do meu amigo Carlos, Milena de 14 anos, estudava na escola e ao saber o acontecido saiu em disparada levado por um diretor da empresa. Com o auxílio do 3G consegui quebrar a barreira do firewall para ver as notícias. Eu lia as notícias e meus olhos se enchiam de lágrimas a cada nova notícia, a cada vídeo mostrado nos jornais na internet. Meu coração estava amargurado. Quando o número de vítimas fatais foi divulgado, não aguentei: fui ao banheiro, entrei on reservado e chorei copiosamente. Orei a Deus pedindo misericórdia aos familiares. Minha agonia aumentava ao ver o desespero de pais e familiares ao chegar na escola e a falta de notícias; os vídeos ainda mostravam muita gente suja de sangue das crianças que naquele dia só queriam estudar. No final do dia recebemos a confirmação de que nosso amigo Carlos tinha perdido sua sobrinha.
Sou pai de quatro filhos, o mais velho está morando na Flórida e tem 23 anos e a minha mais nova tem 4 aninhos. Naquele dia só me acalmei ao falar com todos! E quando deitei peguei minha caçulinha e dormi agarrado com ela… acho que o meu incosciente queria agarrá-la para que ninguém a tirasse de mim.
Eu questionei tanto a Deus… mas sei que não é necessário questionar. Não foi Deus que colocou na mente daquele homem o pensamento de assassinar crianças. Os jornais estão mostrando que esta ação a muito já era planejada. O que aconteceu não pode ser mudado… mas o que podemos fazer para que isso não se repita. Atitudes devem ser cobradas do governo, secretaria de educação sim mas e o nosso papel como pais?
A pouco tempo me enviaram um vídeo onde mostrava que nós vivemos tanto tempo conectado, ocupado com trabalho e até lazer que esquecemos de quem está ao nosso redor. Um filme pra lá de chocante, mas mostrava apenas a mais pura verdade. Quanto tempo estamos dedicando as nossas crianças? Quanto tempo estamos tirando para ler uma história para eles dormirem, para ver seus cadernos da escola, para brincar com eles? Eu lhes garanto que hoje temos 12 pais e mães (fora os parentes, como meu amigo Carlos) que dariam tudo o que tem, inclusive a própria vida, para terem esse momento de novo!
Vamos ensinar as nossas crianças o respeito ao próximo, o amor ao próximo, o coleguismo… vamos ensinar a compartilhar o que tem! Vamos procurar saber o que acontece na escola, quem são seus amigos; vamos visitá-los de supresa na escola para ver o que está acontecendo. Pais, vamos nos fazer mais presentes, mais atuantes na vida deles! Vamos tirá-los da frente da TV e colocá-los para brincar ao ar livre; vamos a praia, vamos acampar, vamos viver com eles!
Um grupo escreveu uma carta aberta às mães e pais, motivados por esta tragédia, alertando, aconselhando.
No jornal O Dia de ontem, meu amigo apareceu numa das fotos da missa de 7º dia chorando ao lado dos pais de sua sobrinha. Chorei… chorei muito. Mas pior foi o choro do meu amigo.
Pastor Claybom
CARTA ABERTA ÀS MÃES E PAIS
Que futuro terão nossos filhos?
Aproveitamos o sentimento de indignação e tristeza que nos abalou nos últimos dias para convoca-los para uma mobilização pelo futuro das nossas crianças. A tragédia absurda ocorrida na escola em Realengo (Rio de Janeiro) é resultado de uma estrutura complexa que tem regido nossa vida em sociedade. O problema vai muito além de um sujeito qualquer decidir invadir uma escola e atirar em crianças. Armas não nascem em árvores.
A coisa está feia: choramos por essas crianças, mas não podemos nos deixar abater pelo medo, nem nos submeter aos valores deturpados que têm regido nossa sociedade propiciando esse tipo de crime. Não vamos apenas chorar e reclamar: vamos assumir nossa responsabilidade, refletir, trocar ideias e compartilhar planos de ação por um futuro melhor. Então, mães e pais, como realizar uma revolução que seja capaz de mudar esses valores sociais inadequados?Vamos agir, fazer barulho, promover mudanças! Acreditamos na mudança a longo prazo. Precisamos começar a investir nas novas gerações: a esperança está na infância. Vamos fazer nossa parte: ensinar nossos filhos pra que façam a deles.
Se desejamos alcançar uma paz real no mundo,
temos de começar pelas crianças. GandhiO que estamos fazendo com a infância de nossas crianças?
Com frequência pais e mães passam o dia longe dos filhos porque precisam trabalhar para manter a dinâmica do consumo desenfreado. Terceirizam os cuidados e a educação deles a pessoas cujos valores pessoais pensam conhecer e que não são os valores familiares. Acabamos dedicando pouco tempo de qualidade, quando eles mais precisam da convivência familiar. Assim, como é possível orientar, entender, detectar e reverter tanta influência externa a que estão expostos na nossa longa ausência? Estamos educando ou estamos nos enganando?
O que vemos hoje são crianças massacradas e hiperestimuladas a serem adultos competitivos desde a pré-escola. Estão constantemente expostos à padronização, competição, preconceito, discriminação, humilhação, bullying, violência, erotização precoce, consumo desenfreado, culto ao corpo, etc.O estímulo ao consumo desenfreado é uma das maiores causas da insatisfação compulsiva de nossa sociedade e de tantos casos de depressão e episódios de violência. Daí o desejo de consumo ser a maior causa de crime entre jovens. O ter superou o ser. Isso porque a aparência é mais importante do que o caráter. Precisamos ensinar nossos filhos que a felicidade não está no que possuímos, mas no que somos. Afinal, somos o exemplo e eles repetem tudo o que fazemos e o modo como nos comportamos. E o que ensinamos a nossos filhos sobre o consumo? Como nos comportamos como consumidores? Onde levamos nossos filhos para passear com mais frequência? Em shoppings?
Quanto tempo nossos filhos passam na frente da TV? 10 desenhos por dia são 5 horas em frente à TV sentados, sem se movimentar, sem se exercitar, sendo bombardeados por mensagens nem sempre educativas e por publicidade mentirosa que incentiva o consumo desde cedo, inclusive de alimentos nada saudáveis. Mais tempo do que passam na escola ou mesmo conosco que somos seus pais!
Porque os brinquedos voltados para os meninos são geralmente incentivadores do comportamento violento como armas, guerras, monstros, luta? A masculinidade devia ser representada pela violência? Será que isso não contribui para a banalização da violência desde a infância? Quando o atirador entrou na escola com armas em punho, as crianças acharam que ele estava brincando.
Nós cidadãos precisamos apoiar ações em que acreditamos e cobrar do Estado sua implementação, como o controle de armas, segurança nas escolas, mudança na legislação penal, etc. Mas acima de qualquer coisa precisamos de pessoas melhores. Isso inclui educação formal e apoio emocional desde a infância. É hora de pensar nos filhos que queremos deixar para o mundo, para que eles possam começar a vida fazendo seu melhor. Criança precisa brincar para se desenvolver de forma sadia. É na brincadeira que elas se descobrem como indivíduos e aprendem a se relacionar com o mundo.
Nós pais precisamos dedicar mais tempo de convivência com nossos filhos e estar atentos aos sinais que mostram se estão indo bem ou não. Colocamos os filhos no mundo e somos responsáveis por eles! Eles precisam se sentir amados e amparados. Vamos orientá-los para que eles sejam médicos por amor não por status, que sejam políticos para melhorar a sociedade não por poder, funcionários públicos por competência e não pela estabilidade, juízes justos, advogados e jornalistas comprometidos com a verdade e a ética, enfim!
Precisamos cobrar mais responsabilidade das escolas que precisam se preocupar mais em educar de verdade e para um futuro de paz. Chega de escolas que tratam alunos como clientes.
Não temos mais tempo a perder. Ou todos nós, cedo ou tarde, faremos parte da estatística da violência. Convidamos todos a começar hoje. Sabemos que não é fácil. E alguma coisa nessa vida é? Vamos olhar com mais atenção para nossos filhos, vamos ser pais mais presentes, vamos cobrar mais da sociedade que nos ajude a preparar crianças melhores para um mundo melhor! Nossa proposta aqui é de união e ação para promover uma verdadeira mudança social. A mudança do medo para o AMOR, do individualismo para a FRATERNIDADE e para a EMPATIA, da violência para a GENTILEZA e a PAZ.
Publicado por Pastor Claybom, pai apaixonado, nerd como marca de nascimento, geek por paixão, adorador por excelência. Enfim, um servo de Deus que tenta entender tudo o que Ele nos oferece no dia a dia.
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BOA NOITE PASTOR
ESSA HISTÓRIA DE REALENGO MEXEU COM TODO MUNDO, INDEPENDENTE DE CREDO.
EU LEMBRO DE TER CHORADO QDO VIA A REPORTAGEM. NUNCA IMAGINEI Q ISSO PUDESSE ACONTECER TÃO PERTO DA GENTE.
EU IMAGINAVA OQ ALGUEM COM O TREINAMENTO QUE EU TENHO FARIA SE ESTIVESSE DENTRO DA ESCOLA NO MOMENTO QUE O MASSACRE COMEÇOU…
NÃO CONSIGO MAIS ESCREVER, PQ MEUS OLHOS FICAM CHEIOS D’ÁGUA.
SEMPER FI ADSUMUS
Belo texto. Me fez refletir muito, precisamos pensar mais sobre que futuro queremos para os nossos filhos. Como diz a Biblía ensina o seu filho no caminho em que deve andar, devemos dar bons exemplos aos nossos filhos e tentar pelo menos dar uma ótima educação. E muito amor, carinho e atenção.
Beijos
Ana