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Adolescentes dos EUA enviam quase 80 torpedos por dia, diz estudo

Troca de torpedos é fenômeno entre crianças e adolescentes.

Troca de torpedos é fenômeno entre crianças e adolescentes.

Estimulados pelos planos com mensagens de texto ilimitadas, oferecidos por operadoras como a AT&T Mobility e Verizon Wireless, adolescentes americanos enviaram e receberam uma média de 2.272 torpedos no quarto trimestre de 2008, segundo a Nielsen Co. O número corresponde a quase 80 mensagens por dia, mais que o dobro da média do ano anterior.

Afinal, eles fazem isso tarde da noite, quando seus pais estão dormindo. Eles fazem isso em restaurantes e enquanto atravessam ruas lotadas. Eles fazem isso na sala de aula com suas mãos escondidas nas costas. Eles fazem isso tanto que seus dedões chegam a doer.

O fenômeno começa a preocupar médicos e psicólogos. Eles afirmam que a prática pode causar ansiedade, distração na escola, queda nas notas, lesão por esforço repetitivo e privação de sono.

O pediatra Martin Joffe entrevistou recentemente estudantes de duas escolas locais e disse ter descoberto que muitos estavam rotineiramente enviando centenas de torpedos todos os dias.

“Isso significa envios com intervalos de alguns minutos”, disse. “Então, você ouve que esses garotos estão respondendo torpedos tarde da noite. Isso causará problemas de sono num grupo etário já atormentado por problemas para dormir”.

O aumento na quantidade de torpedos é recente demais para gerar qualquer dado conclusivo sobre efeitos na saúde. Porém, Sherry Turkle, psicóloga e diretora de um grupo de estudos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em inglês), pesquisou o uso de torpedos entre adolescentes na área de Boston pelos últimos três anos e disse que isso pode causar uma mudança na maneira como os adolescentes se desenvolvem.

“Entre os desafios da adolescência estão se separar dos pais e encontrar a paz e a tranquilidade para se tornar a pessoa que se escolheu ser”, explicou. “Os torpedos atingem diretamente essas duas tarefas”.

Psicólogos esperam ver os adolescentes se libertando de seus pais à medida que se desenvolvem como adultos autônomos, continuou Turkle, “mas se a tecnologia faz com que a manutenção desse contato seja fácil demais, isso se torna mais difícil de acontecer; agora você tem adolescentes que escrevem para suas mães 15 vezes por dia, perguntando coisas como, ‘Devo comprar o tênis vermelho ou o azul?’”

Quanto à paz e à tranquilidade, ela continuou, “se algo próximo de você está vibrando a cada dois minutos, fica muito difícil entrar nesse estado de espírito”.

“Quando se é inundado por comunicação constante, a pressão para responder imediatamente é bastante alta”, acrescentou. “Então, se você está no meio de um pensamento, pode esquecer”.

 

Aceitação

Já o psicoterapeuta Michael Hausauer diz que os adolescentes têm um “grande interesse em saber o que está acontecendo nas vidas de seus colegas, que é agravado por uma tremenda ansiedade em não ficar de fora da turma”. Por essa razão, o rápido aumento nos torpedos tem potencial tanto para grandes benefícios, quanto para grandes males.

“As mensagens de texto podem ser uma grande ferramenta”, disse. “Elas oferecem companhia e a promessa de conectividade. Ao mesmo tempo, seu uso pode fazer um jovem se sentir assustado e exposto demais”.

Os torpedos também podem cobrar seu preço nos polegares dos adolescentes. Annie Wagner, de 15 anos, uma boa aluna da nona série em Bethesda, Maryland, costumava escrever mensagens em seu pequeno celular tão rapidamente quanto digitava num teclado comum. Alguns meses atrás, ela notou uma dolorida cãibra em seus polegares. Ultimamente, a jovem tem usado o iPhone que ganhou no último aniversário e afirma que escrever agora é mais lento e menos doloroso.

 

Sala de aula

Peter W. Johnson, professor associado de Ciências de Saúde Ocupacionais e Ambientais na Universidade de Washington, acredita que ainda é muito cedo para afirmar se esse tipo de estresse é danoso. No entanto, acrescentou, “baseado em nossas experiências com usuários de computadores, sabemos que o uso intenso e repetitivo das extremidades superiores pode acarretar problemas no sistema locomotor. Logo, temos alguns motivos para achar que torpedos demais poderiam levar a danos, temporários ou permanentes, aos polegares”.

Annie disse que embora sua escola, assim como a maioria, proíba o uso de telefones celulares na sala de aula, ela conseguia enviar mensagens com seu aparelho móvel colocando-o sob seu casaco ou sua mesa.

“É só fingir que está pegando algo na mochila”, explicou a colega de Annie, Ari Kapner.

Os professores muitas vezes nem ficam sabendo. “É um grande problema, e está desenfreado”, contou a professora de Química Deborah Yager, que realizou recentemente uma pesquisa anônima com 50 de seus alunos, na qual a maioria disse enviar torpedos durante as aulas.

“Não consigo distinguir quando está acontecendo, e não há nada que possamos fazer”, desabafou. “Não vou gastar um tempo todos os dias para tentar policiar isso”.

Jovens tendem a ser ainda menos cientes acerca dos perigos dos torpedos do que, digamos, videogames ou uso geral de computadores. Os planos ilimitados muitas vezes significam que os pais param de atentar aos detalhes das contas. “Converso com os pais em meu escritório”, disse ele, “faço perguntas e ninguém está pensando sobre isso”.

 

Limites

Ainda assim, alguns pais estão começando a tomar providências. O repórter Greg Hardesty, por exemplo, disse que, no mês passado, sua filha de 13 anos, Reina, enviou 14.528 mensagens em um mês. Ela mantinha o telefone ligado após se deitar, tocando no modo de vibração e esperava o aparelho se iluminar e sinalizar uma nova mensagem.

Hardesty escreveu uma coluna a respeito dos torpedos de Reina no jornal “The Orange County Register”. Na agitação que se seguiu, o volume foi para 24 mil mensagens. Finalmente, quando suas notas caíram vertiginosamente, seus pais confiscaram o telefone.

As notas de Reina melhoraram desde então e o telefone está de volta às suas mãos, mas suas mensagens de texto são limitadas a 5 mil por mês – e proibidas entre 21h e 6h, em dias de semana.

Mesmo assim, ela disse haver um elemento de hipocrisia nisso tudo: sua mãe também é viciada no celular que carrega em sua bolsa.

“Ela deveria compreender um pouco melhor, pois está sempre com seu iPhone”, disse Reina. “Mas ela vem com essa, ‘Oh bem, não quero ver você mandando torpedos’”. (Sua mãe, Manako Ilhaya, disse ter compreendido o ponto de vista de Reina.) Turkle pode entender. “Os adolescentes sentem que estão sendo punidos por comportamentos repetidos por seus pais”, disse. No que ela chama de virada tocante, adolescentes ainda precisam da atenção completa dos pais.

“Mesmo enviando 3,5 mil mensagens por semana, quando ela sai de sua aula de balé, fica incomodada ao ver seu pai no carro usando o BlackBerry”, explicou. “A fantasia de todo adolescente é que o pai esteja ali, esperando, ansioso, completamente focado nele”.

Fonte: G1



Publicado por Pastor Claybom, pai apaixonado, nerd como marca de nascimento, geek por paixão, adorador por excelência. Enfim, um servo de Deus que tenta entender tudo o que Ele nos oferece no dia a dia.



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